CANTEIRO DE SONHOS

Parque Orla Piratininga - Arquivo Pessoal

Neste ano que se finda, ecoou um lamento quase uníssono: “À meia-noite, enfim, um suspiro de alívio”. Um sentimento compartilhado, não é mesmo?

Como se estivéssemos à deriva, em piloto automático, observando os anos, o tempo, e a própria vida escorrerem entre os dedos. Perdemos o controle, tal qual um veículo desgovernado em direção a um destino incerto...

A sensação de perder o domínio é inquietante, mesmo quando a perda se instala silenciosamente. Os dias se esvaem e o tempo, esse eterno algoz, parece nos engolir sem piedade.

Quantos sonhos floresceram em teu jardim este ano? Fazemos planos grandiosos para o futuro, mas nos sentimos tão derrotados no presente que, por vezes, negligenciamos as conquistas alcançadas. Ah, os sonhos... Tenho tantos, mas concretizo tão poucos. Nascida no Brasil, sem berço de ouro, essa é a dura realidade. Contudo, sigo sonhando, ainda que em 2024, ano tão árduo, tenha me esquecido de sonhar. Nesta última madrugada do ano, percebo a lacuna: não sonhei com o ano que se aproxima. Essa tristeza agora me assola, pois os sonhos são o combustível da nossa jornada. Mas decido, agora mesmo, reacender a chama.

Façamos um pacto: sonhemos com a vida, com o tempo e com os anos que virão. Sejam eles benevolentes ou desafiadores, eles chegarão. E devemos celebrar a simples oportunidade de testemunhar sua chegada. A você que lê estas palavras, estendo um convite: venha sonhar. Talvez concretize, talvez não. Mas sonhe com a mais profunda intensidade.

Transforme sua vida em um fértil canteiro de sonhos. Plante-os com esmero, regue-os com dedicação e celebre o brotar de cada um. Alegre-se com seu crescimento e compartilhe os frutos generosos, pois sonhos não foram feitos para serem contemplados em solidão. Que 2025 seja um jardim exuberante, repleto de mudas de sonhos, e que cada um de nós colha os frutos saborosos da realização.

Que venha 2025, um feliz 2025!

Alene Barboza Risse.

Siga-nos: https://www.instagram.com/cafecomversoeconversa/


ABSTRAÇÕES



- Mãe!
⁃ O que foi?
⁃ Acorda, mãe.
⁃ Já tô acordada.
⁃ Não, mãe. Acorda pra vida. Vou me casar hoje.
⁃ Ah, para de loucura! Você só tem 7 anos.   
- Não, mãe. Eu não tenho 7 anos. Eu já tenho 26!
- O quê?
- É, mãe. Você ficou tanto tempo dormindo na sua falsa realidade que esqueceu da vida.
- Nada a ver. Eu estava acordada.
- Não, mãe. Você não estava. Você esqueceu que o tempo passa?             

- Mãe!

- O que?
- Olha meu filho!
- O que?
⁃ Mãe, você dormiu de novo?
⁃ Não. Claro que não. Imagina.

- Mãe, meu filho se formou

- O que? Nada a ver. Ele acabou de nascer
- Não, mãe. Ele já é adulto
- O que?
- Mãe, não dorme mais ok? Você está doidinha já.
- Ok…

- Mãe, se prepare.

- Pra que?
- Seu neto vai se casar.
- Mas já? Tão rápido.
- Mãe, ele tem 28 anos.
- Ah tá… Eu já sabia
- Entendi, mãe.  

- Mãe!

- O que?
- Olha que linda!
- Quem é essa?
- É a filha do meu filho. Sua bisneta.
- O que?
- Ele se casou. Lembra?
- Ah tá. Eu sabia. Eu estava lá.
- Estava dormindo, isso sim…

- Mãe! Mãe!

- Cof! Cof!  O que houve?
- Você está morrendo.
- O que? Nada a ver. Eu só tenho 59 anos.
- Não, mãe. Você tem 79.
- Ah tá. Eu sabia.

 - Adeus, mãe.


Esse poema é da autoria de Kíssia Anacleto, minha filha de 13 anos que sonha ser escritora. Ele me lembrou da obra Sobre a Brevidades da Vida de Sêneca, do qual eu cito:

"Não é que tenhamos pouco tempo pra viver, mas sim que desperdiçamos muito dele."

Achei muito bom, mas como mãe tem tendência a corujices, compartilho para vocês avaliarem e verem se ela tem futuro... 

https://www.instagram.com/cafecomversoeconversa/